Em julho de 2022 houve um caso bastante divulgado pela comunicação social: 5 homens encapuzados, alguns armados, entram numa vivenda em Cascais para assaltar a mesma, estando uma mulher e seis menores em casa.
O assalto termina com os assaltantes a fugir pela janela, e tudo o que levaram foi um par de telemóveis e “móveis na cabeça”.
Apesar de ter havido MUITA sorte envolvida no desfecho desta situação que poderia ter corrido muito mal, há várias coisas que Maria Jorge, a mulher que estava com as crianças à sua guarda fez de forma exímia de um ponto de vista da negociação.
Vídeo:
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O que Maria Jorge, a mulher que poderia ter sido assaltada fez de forma exímia:
- Manteve a calma e o controlo: Maria Jorge perante uma ameaça, manteve a calma e securizou os meleantes, dizendo que eles vão obter tudo o que querem e que portanto não é preciso recorrer a violência. Demonstrou colaboração total, mas manteve a calma, o que ajudou a que nenhum dos criminosos perdesse controlo, mesmo numa situação em que o que sentiu foi terror.
- Manteve o diálogo: Maria manteve o diálogo com os assaltantes o que de acordo com Chris Voss é fundamental para procurar uma solução em que ambas as partes possam sair a ganhar, ou neste caso, que ninguém se magoe.
- Não assumiu uma postura de vítima: o facto de a pessoa que foi assaltada ter cooperado sem nunca dar parte fraca numa postura que ela descreve como “pouco tímida” e mesmo “arrogante”, serviu um propósito muito importante, de fazer com que os assaltantes se sentissem menos inclinados a agredir.
A postura corporal de domínio, mesmo que subtil tende a ter um efeito dissuasor de possíveis agressões; por outro lado a assunção de uma postura submissa tende a aumentar a probabilidade de a contraparte achar que pode agredir e subjugar a pessoa com sucesso (e portanto tentar essa estratégia). - Respondeu com perguntas/ reagiu a ameaças e exigências com questões: quando pediram coisas de valor, em vez de responder diretamente, Maria pede clarificações: “o que é uma coisa de valor? O que é que vocês querem exatamente?” um pedido de clarificação razoável que ao mesmo tempo abranda o agressor e faz ganhar tempo. Perante pedidos impossíveis ou inviáveis, Maria devolve o problema a quem o colocou: “Dinheiro? Ninguém anda com dinheiro hoje em dia.” “Quantas pessoas estão nesta casa? Então vocês assaltam sem saber quem está em casa? Pode ser um polícia ou um militar e vocês não sabem?”
O resto das coisas que sucederam envolveram um risco muito acrescido e foram felizmente uma aposta ganha que dependeu muito da sorte; no entanto, fica claro como é importante o domínio de técnicas de negciação não só quando estamos a tentar obter uma promoção ou um aumento, mas também em momentos do quotidiano e em situações de crise.
Nesta área, e particularmente adaptável a este caso, recomendo o livro do Chris Voss chamado “Never split the difference”, onde várias técnicas e estratégias negociais são apresentadas com muitos exemplos práticos à mistura, especialmente dos tempos de Chris Voss como negociador de reféns do FBI.
